Tenho tido o privilégio de mergulhar nas ciências sociais, acolhido no pós-doutorado, pelo Programa da PUCSP, sob a supervisão da Professora Livre-Docente Teresinha Bernardo, umas das mais bem preparadas e experientes antropólogas do país.
Em minhas discussões acadêmicas com a Professora Teresinha, ela sustentou que o Brasil se define numa pluralidade cultural, não se podendo falar em identidade nacional.
Fiquei perplexo com a afirmação da notável antropóloga que tem absoluto domínio sobre estas categorias, cujo impacto desta afirmação me foi tão profundo que não deixei um só dia de pensar no assunto.
Será mesmo que nós brasileiros não temos identidade nacional? Somos apenas um país e não uma nação? O que nos une? E, pior, o que nos desune?
Nação se define pela unidade político-social constituída pela identidade cultural de um povo soberano, manifestadora do sentimento de nacionalidade que os une; enquanto que, povo se define pelo agrupamento político e jurídico sobre um determinado território.
Logo, o significado de “Nação” é mais amplo; e, para nós, exterioriza a alma do povo brasileiro, embora a pluralidade cultural seja a característica determinante de nosso povo.
Aceitar que não temos identidade nacional, aos meus olhos, significa dizer, que o povo brasileiro sofre de uma desconexão espiritual e é um mero aglomerado primitivo de pessoas, formado por vários grupos sociais que se distinguem entre si, sem unidade e com ligação meramente circunstancial em razão do território, da língua e do ordenamento jurídico.
Se não há identidade nacional, o Brasil é um “país doente”, cuja saída é o aeroporto internacional para os mais afortunados e o suicídio para os menos.
Esta mentalidade de inexistência de identidade nacional é um desserviço e faz com que no Brasil não haja patriotismo, senso de comunidade e solidariedade para com o próximo. Faz com que nosso país seja um “telecatch brazil”, um vale tudo, onde cada um é por si e Deus por todos, imperando a regra da força e a “do mais malandro”. Cada um defendendo o seu, os seus e que se danem os outros. Um lugar onde se pode mentir, roubar, destruir e matar. Onde os facínoras acham que “vão se dar bem” e podem desviar o dinheiro público à vontade e, ainda, pagar e receber propina, até mesmo da verba destinada à compra de ventiladores e de outros meios de combate ao covid-19, enquanto o vírus assassina mais de mil brasileiros por dia.
A propósito, veja-se o contraexemplo da Inglaterra, cuja identidade nacional é tão forte que pelo BREXIT deixou a União Europeia. País onde um “velhinho de 100 anos de idade”, chamado Tom Moore, Capitão do Exército Britânico, ex-combatente contra Hitler, fez a diferença ao lançar um desafio ao povo inglês, em favor do enfrentamento hospitalar ao covid-19, para arrecadar apenas mil libras contra 10 voltas, de andador, de 25 metros cada uma, em seu jardim; e, acabou arrecadando £ 33 milhões de libras para a saúde pública, tendo recebido o título de Cavalheiro da Corte da Inglaterra outorgado pela própria Rainha Elizabeth II, aos 17 de julho último. O povo inglês sim, se une e não foge à luta. Convenhamos, que magnífico exemplo de identidade nacional!
Portanto, faz todo sentido a missão constitucional que o Constituinte de 1988 nos deixou de edificarmos uma sociedade fraterna. Este é o nosso segredo, nosso tesouro. Digo não a quem pensa o contrário. Somos sim uma NAÇÃO, e uma Grande NAÇÃO! Nossa diversidade é nossa força e nós brasileiros nunca deixaremos de ser irmãos. Temos sim IDENTIDADE NACIONAL, você e eu, somos BRASILEIROS e pelo nosso hino cantamos “Verás que um filho teu não foge à luta. Nem teme, quem te adora, a própria morte … Pátria amada Brasil!”